terça-feira, 27 de novembro de 2012


 Não quero vender minha força. Já estou cansada demais
e sem forças. Não quero desperdiçar os breves anos de minha
vida, sem saber se depois poderei aproveitá-la mais tarde,
já quando os anos tiverem consumido minha juventude. Não quero
as riquezas que compram todos os dias, homens e mulheres
desiludidos da vida. E que esperam da vida apenas poderem
viver como personagens de novelas. Dou essa miséria à vocês.
 Dou minhas misérias eletrônicas e a miséria da minha moda.
Dou minhas roupas e meus calçados. Dou até mesmo minha
identidade e o meu emprego. Minha conta bancária.
 Não quero viver em paz com a terra apenas quando meu corpo
inerte tiver que descansar. E sentir o cheiro da relva apenas
em baixo de uma cova.
 Quero poder ver o sol antes que meus olhos fechem. Estar em
harmonia com os bichos, antes que os vermes façam de mim a sua
morada. Quero trabalhar para mim, plantar o que como e aprender
a construir minha casa. Quero celebrar a passagem do ano, viver
como vivam meus antepassados, sem a consciência de que existe uma
cruz que pesa sobre os ombros humanos. Deixo a ira desse deus ganancioso
a vocês. Deixo o pecado. Deixo a cobiça e a falsidade de uma religião
falida a vocês.
 Prefiro os companheiros da floresta, enquanto eles ainda resistirem
a destruição que a humanidade lhes causa. Prefiro o vento sussurrando. Prefiro a
mata falando. Prefiro estar bem longe do que lhes interessa.
 Há um amanhecer divino que me espera.

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