sábado, 11 de junho de 2011


Traga, em pequenos goles,
Os poucos prazeres a ti concedidos,
Pois maior serão as tristezas,
As dores retidas de outras vidas.
Traga, e grave na retina
A imagem desta resplandecente
E oriunda sensação divina.
O prazer da existência,
O gozo à vida!

Suspensão


Nessa corrente que perpassa,
Os quatro cantos do corpo do mundo,
Quero soltar minha alma derradeira;
Quero atirar ao vento meus mais profundos desalentos
E deixar que, enfim, a alma em suspensão
Flutue e se eleve ao infinito da terra.

domingo, 5 de junho de 2011

ENLEIO


O corpo em enleios
É sorrateiro lodo transverso
Que pelo avesso cresce, e
No céu do ser se instala.

Obliquo, as tendências do eu,
Demonstra a descrença em si
E no lânguido passado.
Descrença está que sobressai
A força da sua própria subjetividade.

E remoto, e perdido
Descasa a fé da coisa amada.
Murchando a flor moça nascida
No tempo frouxo, quirera preciosidade,
Para transladar pior do que numa vida já passada.

Enleio – rude como o mármore funéreo,
Sombra duvidosa na noite do ser,
Eclipse imerso nos olhos,
Medo palpitante daquilo que se poderia ter.

Enleio este, que há tanto tempo assombrou,
E que agora vejo perdido
Sorrateiramente no passado.
Enleio que não afeta mais
Esse espírito que ama, e que é amado.

domingo, 17 de abril de 2011



 Se houvesse algum homem capaz de criar um único argumento, suficiente em sua essência, para explicar o vazio  que acomete os corpos, esse homem deveria ser um deus. Pois se houvesse a possibilidade de se explicar através de palavras todas as pulsões, sentimentos, pertinentes ao homem, todas as chagas estariam estancadas e a agonia inerente ao universo da existência seria não apenas aceitável, mas real.
 Já que o ser da palavra, que a tudo denominou, dominou e destruiu mal sabe dizer sobre si ou denominar a si; é incapaz de descrever o eu, a alma, os sentimentos que compõe drasticamente cada pedaço dessa cognoscência. E por isso especula e divaga como uma mosca envolta da lampâda. E por isso brinca de deus, ao criar uma espécie de vida cibernética para imitar suas próprias pulsões.
 Tenta pintar da forma mais alucinógena a imagem de um ser repleto de deficiências, de doenças, escorado em uma muleta divina que aplaca a dor e fecha os olhos para o sentido em não existir sentido nenhum, como um véu de Maia.
 Sofre por não ser capaz de desvendar sua própria essência, se foi capaz de desvendar até a fórmula da massa borbulhante que originou sua evolução, se é capaz de reproduzir seus próprios sentimentos em um pedaço de lata. Mas não se desvenda, e por isso não cansa em procurar uma unica resposta para sua própria salvação!
 E agora homem, continuará brincando de deus para enfiar vida em uma lata, em um robô que pensará, que terá moral, que sentirá, ao invés de salvar suas crianças de carne, que morrem de fome todos os dias?

sábado, 16 de abril de 2011

Hijo de La Luna - Haggard


Tonto el que no entienda
cuenta una leyenda
que una hembra gitana
conjuro a la luna hasta el amanecer
llorando pedia
al llegar el dia
desposar un calé
tendras a tu hombre piel morena
desde el cielo hablo la luna llena
pero a cambio quiero
el hijo primero
que le engendres a el
que quien su hijo inmola
para no estar sola
poco le iba a querer

Luna quieres ser madre
y no encuentras querer
que te haga mujer
dime luna de plata
que pretendes hacer
con un niño de piel
hijo de la luna

De padre canela nacio un niño
blanco como el lomo de un armiño
con los ojos grises
en vez de aceituna
niño albino de luna
maldita su estampa
este hijo es de un payo
y yo no me lo cayo

Gitano al creerse deshonrado
se fue a su mujer cuchillo en mano
¿de quien es el hijo?
me has engaño fijo
y de muerte la hirio
luego se hizo al monte
con el niño en brazos
y alli le abandono

Y en las noches que haya luna llena
sera porque el niño este de buenas
y si el niño llora
menguara la luna
para hacerle una cuna
y si el niño llora
menguara la luna
para hacerle una cuna
Eu gostaria de estar na paz do teu abraço
Mas, o teu abraço não tem paz, guerra.

domingo, 10 de abril de 2011

“É por se chamar amor
Que punge no peito
O mais doloroso de todos os espinhos.”

domingo, 3 de abril de 2011

Tétrico horror - jogo dos corpos



Era um corpo que flutuava no tempo,
Era uma alma acorrentada ao chão.
As vezes se mostrava como lírico tormento
Outras era carne em putrefação.

Se via um rastro, um borrão
Que corria entre o espaço caótico
Do ser e da imaginação.
Um rastro sapientíssimo, apenas um borrão

Que mascarado se opunha
A norma e a tradição.
Que sorria através da maquiagem tétrica,
Pois era composto do medo, do negro,
Do sujo.

Era um corpo em pedaços
Composto de destroços de uma mulher,
Mas ao longe se assemelhava ao homem...
Puerilmente aquele menino que morreu.

Não se via formas
Na alquímica composição, eram pedaços de todos os seres,
Eram seres de toda imaginação.
Homem e mulher, misturados na tinta do tempo,
Hospedeiro do pesadelo existente em todos nós.

Era parte de mim, era parte de você.
Um corpo que flutuava no tempo,
Que se arrastava no chão.
Um borrão que vivia divisível
No espaço do ser e da imaginação.

Um borrão de um quadro antigo
Que talvez a Moira pintou;
Feito de pedaços da carne,
De um acidente que faz do corpo uma massa.
Um quebra-cabeça monocefálico
De mim, de você.

Um jogo disforme acorrentado ao chão
Feito do tétrico da realidade,
Feito da carne onde o verme subsiste,
Feito dos sonhos que o mundo oprime,
Feito do horror que o homem esconde.

Era um corpo que flutuava no tempo,
Era uma alma acorrentada ao chão.
As vezes se mostrava como lírico tormento
Outras era carne em putrefação.

Se via um rastro, um borrão
Que corria entre o espaço caótico
Do ser e da imaginação.
Um rastro sapientíssimo, apenas um borrão.

domingo, 27 de março de 2011

Interlúdio - o intervalo entre dois atos



Moro num fim de mundo que não me cabe e por isso me engulo,
Moro onde os sonhos e tristezas se confundem e por isso me encapo,
Poucas vezes me descubro.
Mas amo o céu e o sol, assim como a lua e o escuro,
Amo e desvendo sem vergonhas, sem escrúpulos,
Dançando como o bicho dos tempos passados
Misturada como lama, como planta, como musgo.
Amo, não a gente.
Amo, não as aparências.
Amo o que me faz ser naturalmente essência,
O que me faz ser livremente pássaro, peixe e serpente.
O que me faz ser seja onde for
Pois é preciso ser, antes de estar, antes de corrompidamente saber.

É preciso se misturar
Não com gente, não com cinza, não com o corpo,
É preciso se comunicar
Não com a comum fala.
Abrir os olhos que não vêem,
Os ouvidos que não ouvem,
A boca que secou, no ano do Senhor.
Preciso saber andar, não com os pés do próprio corpo
E ser, não aquilo que ensinaram,
Mas aquilo que grita sobre mim a todo instante.

segunda-feira, 7 de março de 2011

Dança da alma

Enquanto a alma se esconde
Por entre os falsetes da carne,
Enquanto os sonhos corroem
A insustentável pureza do ser,

Voam para mundos perdidos,
Que alongam as bagagens de dor,
A plena e caduca vontade de vida,
O véu de ilusão e de amor.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

 Sonhamos porque somos incapazes de enfrentar o presente. Pensamos no futuro, nos projetamos para ele, porque fomos transformados em peças enlatadas desprovidas de ânimo para a luta.
 Buscamos o imediato. Sabemos um pouco de tudo e exatamente de nada.
 Nos agregamos ao passado, ao que já está pronto, porque nossa geração não foi criada para o novo, mas apenas para a cópia e por isso a essência e força das coisas estão se esvaindo. Por isso o significado das culturas, contra-culturas e até mesmo da própria palavra estão se perdendo.
 Porque o ser humano, acostumado apenas com reformas, se esqueceu das dificuldades em se criar as bases, porque alguém acostumado apenas em abrir uma lata, um pacote, se esquece do suor derramado para semear a terra, para erguer o teto do que posteriormente será chamado de lar, ou mesmo do sangue ofertado aos deuses da guerra para que cesse a injustiça e prevaleça nosso direito de estarmos vivos.
 Já não sei mais com a antiga precisão de um ignorante, quantos caminhos virão para se apreender que de nada adiantam os sonhos, além de acalmar as tempestades do coração, do ser ferido e sentimentalmente metafísico chamado ser humano.
 Quantos caminhos passarão para que seja entendido com a clara precisão da luz do dia, que por mais que se sonhe e que se aplique na busca de um ideal, só a vida sabe para onde os corpos serão levados. E mesmo acreditando que somos senhores do nosso próprio destino, apenas a mão do tempo e as façanhas do desconhecido é que sabem sobre todas as esquinas surpreendentes do nosso ser.
 Sonhe durante toda uma vida, e no final saberá que tudo o que buscou foi diferentemente conquistado, que tudo o que amou foi incrivelmente modificado e tudo o que possui é exatamente contrário ao imaginado. 

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

 Sempre quando a maré se acalma é possivel mirar a orla da praia.