domingo, 29 de agosto de 2010

O sentido da burocracia


Eu enquanto mulher em uma sociedade extremamente e mascaradamente machista, sou sempre prejudicada em relação à falta de liberdade da própria escolha, isto porque a lei mudou, mas o que não mudou foi a cabeça das pessoas.
Eu, enquanto cidadã de baixa renda, sou prejudicada por ter de pagar impostos por estar respirando e em troca disto ao invés de melhorias na vida de cidadãos como eu, somos obrigados a trabalhar mais para poder pagar impostos que sustentam a mesa de políticos salafrários e não falo apenas dos políticos dos senados, falo de professores que recebem apadrinhamento de políticos, como se colégios e universidades federais fossem o próprio senado.
Como cidadã de baixa renda, toda minha vida e minha educação ocorreram no sistema de ensino público, no porco e mal feito sistema de educação, que ao invés de formar aliena ainda mais, para que assim existam os trabalhadores de carga que sustentam toda a camada das relações de sobrevivência.
Entretanto, diferentemente da maioria dos infelizes de baixa renda que não sobreviveram ao ensino médio, decidi seguir com os estudos. A opção foi a mais plausivel para minha condição monetária: uma universidade estadual.
Enquanto acadêmica de baixa renda, fui submetida a um processo de confirmação de estado de miséria para conseguir uma bolsa de 300$, que deveria manter o pobre acadêmico na universidade. Porém para que o dinheiro pingue na conta todo o mês, é preciso que se desenvolva um subprojeto que deveria estar sob o cuidado de um orientador. Mas como brasileira, de baixa renda e mulher o ocorrido não foi exatamente esse. Pois a negligência do “suposto” orientador me fez pesquisar incansavelmente, sem qualquer tipo de orientação acadêmica, enquanto os professores de instituições federais recebem, além do seu salário, uma taxa de 55% para poder justamente orientar os acadêmicos, neste caso, com 20 horas semanais, que incluem reuniões para discussões entre acadêmico e orientador.
Ao passar de dez meses sem qualquer tipo de ajuda para minha pesquisa, sem qualquer tipo de encontro na universidade, lutando com o quase inexistente conhecimento do ensino médio, e tendo como respostas para os meus textos, infelizmente via email, que eu não possuía um objetivo, nem um ponto, mudei minha pesquisa para um tema já desenvolvido pelo tal orientador, que o aceitou de bom grado. Mas insatisfeita com o resultado e preocupada com apresentações que faria em dois congressos, fui atrás de auxílio. E ao ir atrás de auxílio expus a verdade, mas a verdade ofendeu o ego de muitos sábios, a ponto de perder o orientador que me “orientava”.
A conclusão é que, com apenas dois meses para o fim da bolsa e conseqüentemente do subprojeto, me encontro sem qualquer tipo de orientação, pois os professores desta mesma universidade me deram as costas.
A mais de duas semanas, todos os dias percorro um mesmo trajeto dentro desta universidade, indo dos centros menores aos centros maiores, de apoio ao acadêmico, para tentar resolver a situação em que me encontro. Todavia, para animar um pouco mais essa luta para vencer a burocracia e manter os meus direitos, não apenas como acadêmica, mas como pessoa, intactos, me disseram: “ sinto muito lhe informar, mas a sua tentativa de buscar justiça é inútil, pois poucas vezes dentro de uma universidade federal, os funcionários públicos são punidos, visto que o sistema não funciona”.
E assim, sem ter para onde correr e sentindo o gosto amargo da impunidade, exponho de forma breve e tosca meus maus momentos dentro de uma universidade renomada chamada UEL.

Liberdade

 Sempre tive uma insegurança inata para a solidão, até descobrir que posso me divertir na própria solidão.
 Sempre tive um medo terrível de acabar sozinha.Mas quando sua maior preocupação é diversão, as pessoas é que se preocupam em não acabarem sozinhas.
 Experimentar não ser de ninguém foi a melhor experiência que pude tirar de mim mesma, e me divertir sem depender da boa vontade de um único amigo, ou um parceiro foi o melhor presente que poderia me dar.
 Acabei sozinha dentro da própria noite, dançando como uma criança que não se importa com a multidão, meu corpo era vento passageiro, dançando bêbado e contente na vaga e temida solidão. 

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Dominação

Vejo os lábios,

Mas não escuto a voz.

Olho os olhos,

Mas não há o que indique

Que estes olhos são capazes de perceber,

Existe uma pequena fagulha

De criação,

Entretanto, existe o pouco do espaço

Que dominado pela modernidade

Pode oferecer a estes lábios

Ou a esses olhos

A inexistente possibilidade de romper

Com uma clave de sol.

domingo, 22 de agosto de 2010

O óbvio


 Quando acordei, não pensei na vida que me consumia, não pensei no sol que sorria, como em todas as manhãs e nem em todo o jogo de sentimentos que andam a andar dentro de mim.
 Quando acordei, desejei tomar um café e depois saborear o gosto da satisfação em me saciar, mas não olhei o céu e nem quis evocar qualquer tipo de sensação, se não a de tomar um café.
 Mas como o dia não se constitui apenas de cafés e “bons dias” tive que me sentar aqui e pensar no que fazer.
 Primeiro me dediquei a uma leitura sobre o amor, me senti contagiada de alegria. Senti força e vitalidade naquelas palavras que animaram minha própria vida e quis sair e correr, ver o sol e os pássaros... mas em seguida, a vida com suas peças veio sorrir para mim, com os dentes podres que esconde dos demais.
Veio para me lembrar do porquê me coloquei tão cedo a deitar, e tão cedo desejei sonhar. Me fez recordar da desmotivação, da óbvia desmotivação que destrói, que corrompe e que faz com que o sol e o céu sejam sempre esquecidos.

"Ode" ( a Cristina Guerra)

Ela não oscila nas palavras, sabe certo o que pretende tornar poesia. 
Dança na roda dos versos que cria, versos de amor e alegria.
E quase vejo seu corpo de vento, que saltita palavra por palavra, 
Espalhando com letras a vida, que tão esquia nos escapa.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Transmuta, que o tempo lhe consome

  
   "Amanhece o dia,
   E todas as noites que passaram
   Representam o tempo que perdeu.

   Escurece o céu do sonho,
   Que planejado não  se pode realizar
    Pois foi consumido
   Pelo ego do tempo
   Que descrente lhe roubou
    As horas que o levariam à ascensão."

Os planos matam a essência do sonho, pois o sonho só pode ser lindo enquanto não pertencer à realidade das "maravilhas" da EMPIRIA.

domingo, 8 de agosto de 2010

Uma matriz de sensações

O primeiro traço do pincel foi a impressão mais forte que pude ter, mas depois tudo o que foi pintado eram apenas borrões desbotados, já que a tinta que possuía foi me dada apenas para traçar a linha que iniciou a felicidade e quanto mais pintando, para tentar resgatar a cor, cada vez mais a cor se perdia, minhas impressões se perdiam, até que tudo se tornou o nada, o nada da sensação e restou apenas um vazio que consumiu o primeiro momento da cor, do amor, da felicidade.
Caí em profundo esquecimento de mim mesma, caí em profundo tédio de existir, pois nem a cor pode reter, ou manter viva, a centelha de fogo que inicia um momento de grande exaltação ao sentimento, ao sentido e busca da felicidade.
                O que veio depois, tanto na cor do traço, quanto na palidez do que sobrou da sensação consumida, foi uma escala do vivo ao transparente. Como se existisse um acumulo de querer, acarretando em uma explosão para em seguida restar apenas a calma.
                Entretanto, a calma me soa uma ausência de sentidos que gera um desconforto profundo, já que o meu querer, que sempre quer querer, está sem um rumo. Ficou perdido no momento de sua ascensão e queda. Explodiu em si mesmo e depois renasceu. Mas calma o incomoda, a calma lhe sugere o nada da sensação.
                Volta o querer sedento de sensação. Oferecem-me um pincel com tinta, o querer oferece um momento para ascensão. E com a mesma rapidez com a qual traço um risco, que vai do vivo ao pálido, o momento explode em sua totalidade e traz de volta o vazio, o pálido, claramente expresso pelo pincel que apenas no primeiro traço manifesta a sensação mais forte de um momento e em seguida expressa no pálido o nada, o vazio que consumiu a cor, o amor e a felicidade.

domingo, 1 de agosto de 2010

A utopia de uma universalidade inexistente

Senta no desespero das horas que não findam aquele texto sem fim, para defender idéias que nunca se propôs a questionar, sobre a certeza que a ação de um homem pode chegar pelo crivo da razão que o habita mas não o domina.
Escreve sobre o extremismo de uma concepção que julga conhecer o que um homem pode conceber em seu mundo, tão somente seu, mesquinho e subjetivo. Sem nunca se lembrar do que seria biológico.
Tenta universalizar, mas nem mesmo acredita e muito menos tem fé, naquela teoria já desbotada, mas a única em que se pode apegar, já que o mundo que não porduz a obriga também não produzir.
E é óbvio que caia numa desesperança sem fim, já que mantém sempre os olhos da mente naquilo que não é seu, naquilo que não é de ninguém.