domingo, 8 de agosto de 2010

Uma matriz de sensações

O primeiro traço do pincel foi a impressão mais forte que pude ter, mas depois tudo o que foi pintado eram apenas borrões desbotados, já que a tinta que possuía foi me dada apenas para traçar a linha que iniciou a felicidade e quanto mais pintando, para tentar resgatar a cor, cada vez mais a cor se perdia, minhas impressões se perdiam, até que tudo se tornou o nada, o nada da sensação e restou apenas um vazio que consumiu o primeiro momento da cor, do amor, da felicidade.
Caí em profundo esquecimento de mim mesma, caí em profundo tédio de existir, pois nem a cor pode reter, ou manter viva, a centelha de fogo que inicia um momento de grande exaltação ao sentimento, ao sentido e busca da felicidade.
                O que veio depois, tanto na cor do traço, quanto na palidez do que sobrou da sensação consumida, foi uma escala do vivo ao transparente. Como se existisse um acumulo de querer, acarretando em uma explosão para em seguida restar apenas a calma.
                Entretanto, a calma me soa uma ausência de sentidos que gera um desconforto profundo, já que o meu querer, que sempre quer querer, está sem um rumo. Ficou perdido no momento de sua ascensão e queda. Explodiu em si mesmo e depois renasceu. Mas calma o incomoda, a calma lhe sugere o nada da sensação.
                Volta o querer sedento de sensação. Oferecem-me um pincel com tinta, o querer oferece um momento para ascensão. E com a mesma rapidez com a qual traço um risco, que vai do vivo ao pálido, o momento explode em sua totalidade e traz de volta o vazio, o pálido, claramente expresso pelo pincel que apenas no primeiro traço manifesta a sensação mais forte de um momento e em seguida expressa no pálido o nada, o vazio que consumiu a cor, o amor e a felicidade.

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