domingo, 27 de março de 2011

Interlúdio - o intervalo entre dois atos



Moro num fim de mundo que não me cabe e por isso me engulo,
Moro onde os sonhos e tristezas se confundem e por isso me encapo,
Poucas vezes me descubro.
Mas amo o céu e o sol, assim como a lua e o escuro,
Amo e desvendo sem vergonhas, sem escrúpulos,
Dançando como o bicho dos tempos passados
Misturada como lama, como planta, como musgo.
Amo, não a gente.
Amo, não as aparências.
Amo o que me faz ser naturalmente essência,
O que me faz ser livremente pássaro, peixe e serpente.
O que me faz ser seja onde for
Pois é preciso ser, antes de estar, antes de corrompidamente saber.

É preciso se misturar
Não com gente, não com cinza, não com o corpo,
É preciso se comunicar
Não com a comum fala.
Abrir os olhos que não vêem,
Os ouvidos que não ouvem,
A boca que secou, no ano do Senhor.
Preciso saber andar, não com os pés do próprio corpo
E ser, não aquilo que ensinaram,
Mas aquilo que grita sobre mim a todo instante.

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